segunda-feira, 9 de maio de 2011

Rio

O Brasil está ganhando uma superexposição internacional no cinema. Muitos e muitos filmes se passam no nosso país. Momento perfeito para o brasileiro Carlos Saldanha, diretor já consagrado lá fora, fazer uma animação sobre nós e sua cidade natal. Mas do jeito que lá fora gostariam de ver.


Rio (Rio, 2011)
Direção: Carlos Saldanha
Claro que um brasileiro conhece o Brasil, mas não acho que a intenção do diretor era fazer o filme extremamente fiel ao que se vê no nosso país. Ele tem que agradar todo o mundo, tem que ser agradável em todos os países.
Blu é uma arara azul que mora nos Estados Unidos, não sabe voar e é também o último macho da sua espécie. Ele e sua dona Linda então precisam viajar ao Brasil para encontrar a última fêmea. Aqui, as aves são raptadas, se perdem e conhecem a Cidade Maravilhosa.
Eu achei o filme espetacular, me surpreendeu bastante, pelas críticas que eu havia ouvido sobre ele. Apesar do filme apresentar os estereótipos brasileiros, ele tem uma boa dose de realidade que não se vê em produções americanas. Basta comparar com o episódio de Os Simpsons em que eles vêm ao Brasil. Qual dos dois é mais plausível?
O filme começa com a Baía de Guanabara, entrando na Mata Atlântica e mostrando os pássaros dançando ao som do samba. Um samba muito bom, aliás. A sequência inicial presta algumas homenagens à Disney na época da Política da Boa Vizinhança, em que fez filmes sobre a América do Sul como Alô Amigos e Você Já Foi à Bahia?. Os próprios pássaros sambando é um estereótipo cunhado pela Disney, e ainda há a paisagem parecida e até os corvos que, de início, parecem um cacho de bananas.
Toda a paisagem carioca é muito bela, criada fielmente a partir da real. Realmente parece que se está no Rio de Janeiro, com seus principais cartões postais recriados digitalmente, como o Pão de Açúcar, as calçadas de Copacabana, o Cristo Redentor e até as favelas e seus barracos.
A trilha sonora é sensacional. Composta de vários sambas e músicas que misturam instrumentos brasileiros usados no samba com outros estilos dançantes, a trilha surpreende e faz com que você entenda porque todos esses brasileiros do filme dançam samba a todo momento. A trilha foi composta em parceria com brasileiros, incluindo aí Carlinhos Brown, e ela é em português em vários momentos, na versão original. Há uma nova regravação do clássico Mas Que Nada, há um samba-enredo tradicional, uma mistura de samba com pop, outra mistura com rap e até um funk carioca.
Os personagens são extremamente bem construídos, fofos, engraçados e interessantes. Bem ao estilo de outros filmes da Blue Sky. Compare com a trilogia A Era do Gelo. A dublagem original é feita por grandes nomes da atuação, e não é à toa que muitos até são cantores, como Jamie Foxx, will.i.am, Jemaine Clement, pois o filme conta com músicas em vários momentos, mas não sendo essencialmente um musical ao estilo Disney, pois as músicas mais são momentos de expressão de sentimentos do que para contar a história em si. E sendo um grande fã de Flight of the Conchords, é muito bom ver que a música de Nigel, personagem de Jemaine Clement (um dos integrantes da banda de comédia), é bem ao estilo da banda e co-escrita por ele mesmo.
A dublagem brasileira é espetacular. Dirigida por um dos melhores dubladores do Brasil, Guilherme Briggs, que também faz a voz de Nigel, maravilhosamente bem, diga-se de passagem. Não deve nada à dublagem original de Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Leslie Mann, Tracy Morgan, George Lopez, Rodrigo Santoro e outros já citados aqui. Inclusive, Rodrigo Santoro faz a dublagem brasileira também, como o seu personagem Túlio, uma decisão esperta. A dublagem inclui várias expressões brasileiras que faz com que nos identifiquemos mais com o filme, e a tradução das músicas está muito boa, comparada, em qualidade, à tradução de músicas da Disney. A dublagem ainda conta com outros grandes nomes brasileiros como Alexandre Moreno, Mauro Ramos e Sylvia Sallusti.
A história é relativamente simples, mas não é ruim. É mais uma trama para fazer a história andar e poder mostrar todos os lugares do Rio, desde a praia até as favelas, da mata ao sambódromo. O filme é uma comédia, e tem personagens engraçados, bem ao estilo das animações da própria Blue Sky. Achei o filme tão bom quanto o carro-chefe da empresa, A Era do Gelo, e tem de tudo para se tornar a próxima cara da empresa. Por causa do personagem, poderia até virar Blu Sky Studios, não acham? Ou não.
Achei uma das melhores animações do ano até agora, com chances de concorrer ao Oscar, por questões políticas. Claro que o Brasil é representado como o país do samba, do futebol, das bundas e de pessoas que caem na farra. Mas quem ajudou a vender essa imagem para o mundo foram os próprios brasileiros, usando tudo isso como produto de exportação. Claro que não existem flamingos por aqui, nem macacos ladrões, mas a questão é que, mesmo o filme sendo dirigido por um brasileiro, ele é produzido por americanos, e eles não acham que o Brasil é do jeito que ele é de verdade, assim como, tenho quase certeza, os Estados Unidos não são exatamente o que vemos nos filmes.

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